REYES Y NOBLES DESCENDIENTES DE LOS VASCONCELOS SEGÚN GENEALOGÍA DEL MARQUÉS DE TROZIFAL Y CONDE DE TORRESVEDRAS: BENAVIDES DE SANTISTEBAN DEL PUERTO
De negro, três
faxas veiradas e contraveiradas de prata e vermelho. Timbre: liao de negro,
armado e linguado de vermelho, e carregado das peças do escudo. Com as faxas
simplesmente veiradas encontra-se o escudo deste brasão no Livro do Armeiro
mor, fl. 53, no Livro da Torre do Tombo, fl. 10 v., nos Tropheos lusitanos de
Soares de Albergaria, fls. 55 e 56 mihi, no Thesouro da nobreza de Francisco
Coelho, fl. 40, no Thesouro da nobreza de Fr. Manuel de Santo António, v-12, em
várias cartas de brasão de 1514, 1515 e outros anos apontadas na Armaria
Portuguesa no artigo Vasconcelos. Com as faxas veiradas e contraveiradas, forma
errada, trazem também este escudo: Fr. António Brandão, na Monarchia lusitana,
III, 173; Fr. Leão de Santo Tomás, na Benedictina lusitana, II, 498 ; e em
cartas de brasão de 1530, 1533, etc. apontadas na citada Armaria. João Salgado
de Araújo, no seu Sumario de la familia de Vasconcelos, fl. 18, traz este
escudo errado, declarando ser o campo de vermelho e as faxas de veirado de
branco e negro. O timbre, como está pintado na sala de Sintra, aparece também
no Thesouro da nobreza de Francisco Coelho e numa carta de brasão de 1709 (1).
Com muito pequena diferença, pois que esta consiste apenas em o lião não ser
armado, nem linguado de vermelho, encontra-se o timbre dos Vasconcelos em
cartas de brasão dos anos de 1530, 1540 e 1552 (2). Numa carta de brasão de ,3
de Abril de 1533 (3) descreve-se o lião do timbre como nas precedentes, mas,
por excepção, nascente. O mesmo dizem quási todos os autores portugueses, que
têem tratado de heráldica. Apesar desta quási unanimidade entendo, pelas razoes
apontadas no artigo
(1) Copiada no Archivo heráldico do Visconde de
Sanches de Baena, pág. 655.
(2) Armaria portuguesa^ pág. 524.
(3) Ibidem.
dos Pereiras, pág. 301, dever prevalecer a todos a
autoridade especial do Livro da Torre do Tombo, e que, conforme com este,
deverá o timbre dos Vasconcelos ser um lião de oiro, carregado das faxas do
escudo. Desta mesma opinião era em 1515 o bacharel António Rodrigues, Portugal
principal rei de armas, na carta de brasão concedida a «Duarte Lopes de Vasco
goncellos» em 10 de Março, dizendo: «e por timbre um lião de oiro assentado com
as três faxas das armas» (1). Depois mudou de parecer, nas cartas de 1530, 1640
e 1552.
I SENHORES DA TORRE DE VASCONCELOS
Houve, eu falo sempre no pretérito, não só porque já
hoje tudo isto acabou, mas também porque só o passado me interessa; houve pois
duas famílias diversas de Vasconcelos, ou melhor três: a dos legítimos, a dos
de Penela daqueles derivada por uma senhora, e a dos do Esporão, destroncados
ou pouco menos. De todas três darei resumida notícia. Ponho completamente de
parte infantes Velosos e outros petas semelhantes, e começarei em Martim Moniz,
o legendário herói da porta da alcáçova de Lisboa (2). E começo neste, porque o
testamento de. um de seus filhos a isso me autoriza. Conforme o Nobiliário do
Conde D. Pedro (3) casou Martim Moniz com D. Teresa Afonao e dela teve: Pedro
Martins da Torre, João Martins Salsa e Martim Martins, arcediago de Braga. No
cartório das capelas do arcebispo D. Gonçalo Pereira, junto à Sé de Braga,
estava o testamento do arcediago Martim Martins; lá o viu Gaspar Álvares de
Lousada e dele fez largo extracto, esquecendo-lhe a data (4). Nesse instrumento
declara o testador ser filho de Martim Moniz.; institui por seu herdeiro
universal a seu sobrinho Estêvão Anes, filho de João Peres
(1) Armaria portuguesa, pág. 524.
(2) Na era de 1187 (A. D. 1149) o «famulus Dei
Martinus Moniz» fez doação de dois casais cin villa Boneli» (é a freguesia de
Boêlhe, no concelho de Penafiel) ao altar do Salvador de Paço de Sousa
{Documentos para a historia portuguesa, pág. 156). Nas Inquirições de D. Afonso
III do ano de 1258 ainda esses casais eram do mosteiro, que declara tê los tido
«de testamento herdatorum» {Portugaliae monumenta histórica. Inquisitiones,
pág. 586). D'aqui pode-se concluir haver Martim Moniz sobrevivido pelo menos
dois anos à tomada de Lisboa .'' Não, porque não estão bem identificados os dois
Martins e era preciso averiguar cabalmente, se a família dos Vasconcelos foi
herdada para aquelas bandas, para o que não tenho encontrado elementos.
(3) Portugaliae
monumenta histórica. Scriptores, pág. 365.
(4) Sumários da Torre do Tombo, II, fl. 452 v., mihi.
de Vasconcelos; e deixa um legado em terra de Santa
Maria a Pedro Anes de Alvelos, que é o filho. dado pelos nobiliários antigos a
João Martins Salsa e, conforme os mesmos, o progenitor dos Alvelos. Do
testamento só isto aproveitarei e basta para o meu intento, por ficar provada a
existência dos três filhos de Martim Moniz, apesar de não serem nomeados se não
os dois netos, o Vasconcelos e o Alvelos; mas, pelos patronímicos destes,
tiram-se os nomes dos pais. E não fica só isto provado, também fica sabido
quando teve princípio o uso dos referidos apelidos. Pedro Martins da Torre, o
primeiro filho de Martim Moniz, tirou o apelido, é evidente, do senhorio de uma
torre e esta já podia ser a de Vasconcelos na freguesia de Santa Maria de
Ferreiros, do concelho de Amares. A primeira referência ao lugar de Vasconcelos
encontra-se nas Inquirições de 1258 (1), na paróquia de Santa Maria de
Ferreiros: «Item, dixerurit que VasconceIos é Onra» (2). Nas de 1288 declararam
as testemunhas que Vasconcelos, Rio Bom e Banaria constituíam uma honra de
Rodrigo Anes e Pedro Anes de Vasconcelos, honra muito antiga, pois constava ter
sido criada em tempo de D. Egas Fáfez (3). Pelas mesmas Inquirições consta
possuírem então os de Vasconcelos outra honra constituída por toda a vila de S.
Salvador de Amares, a qual houveram por escambo com a Ordem do Hospital (4).
Foi julgada por honra nas sentenças de 1290 (5). Foram estas honras possuídas
por João Peres de Vasconcelos, como se colhe da acta relativa à freguesia de S.
Salvador de Vilar do Monte, onde por outra sentença foram mandadas honrar as
casas e herdades dos de Vasconcelos (6). Já então era João Peres de Vasconcelos
falecido, como expressamente é declarado nos depoimentos, e talvez tivesse
morrido antes de Janeiro de 1265, segundo se pode deduzir dos documentos a
seguir apontados. D. Sancha Peres, vizinha de Santarém, constituiu, por
instrumento de procuração lavrada naquela vila a. 6 de Janeiro da era de 1303
(1265), seus procuradores a seus sobrinhos Rodrigo Eanes e Pedro Eanes de
Vasconcelos a fim de em seu nome outorgarem numa escritura de troca de
propriedades (7).
(1) Nas
Inquirições de 1220 toda a paróquia de Santa Maria de Ferreiros era rialenga. —
Portugaliae monumenta histórica. Inquisitiones pág. 92; Pedro de Azevedo, Os de
Vasconcellos, no Archivo histórico portuguez, II, 878, n.° I.
(2) Portugaliae monumenta histórica. Inquisitiones,
pág. 426; Os de Vasconcellos cit. pág. 378, n.° II.
(3) Os de Vasconcellos cit., pág. 378, n," III.
(4) Ibidem.
(5) Ibidem^ pág. 379, n.» v.
(6) Ibidem^ n.° iv.
{7) Ibidem., pág. 377, doe.
Apresentaram-se os dois irmãos no mosteiro de Arouca
e, por instrumento de IV das nonas de Maio da referida era (4 de Maio de 1265),
celebraram com a abadessa D. Mor Martins a ajustada troca. Consistiu ela em D.
Sancha Peres dar à dona Abadessa certo casal e outro meio casal por ela
possuidos, recebendo por eles toda a herdade que D. Mor Martins havia no lugar
chamado de Vasconcelos, com todas suas pertenças, excepto o espiritual, constituido
pela terça parte da igreja de Santa Maria de Ferreiros. Houvera a dona Abadessa
esta propriedade por morte de sua mãe, D. Estevainha Soares, e concorda na
troca principalmente por amisade pelos ditos Pedro Eanes e Rodrigo Eanes seus
sobrinhos (1). Com efeito D. Mor Martins era prima com irmã do pai deles, João
Peres de Vasconcelos, tendo por bisavô comum aquele D. Egas Fáfez, em cujo
tempo se criou, como dizem as testemunhas de 1258, a honra de Vasconcelos.
Supõe o indefesso investigador e meu muito presado amigo Pedro de Azevedo, no
seu citado artigo Os de Vasconcellos, ter só, por ocasião desta escritura de
escambo, entrado a posse da torre de Vasconcelos na linhagem. Não posso porem
concordar, não só por ver na procuração para se realizar a compra já os
procuradores da adquirente se chamarem de Vasconcelos, mas também porque com
este apelido encontro o pai deles nomeado nas citadas Inquirições de 1290,
sendo já então falecido. Além disso os de Vasconcelos também eram descendentes
de D. Egas Fáfez, pela mulher de Pedro Martins da Torre, D. Teresa Soares,
filha de D. Soeiro Pires Torta e de D. Froilhe Viegas, filha de D. Egas Fáfez,
«de Lanhoso o que fez muito bem em Randufe», podiam portanto, sem dúvida, terem
herdado directamente a honra. Foi pois João Peres de Vasconcelos o primeiro
deste nome, e é o primeiro desta linhagem nomeado no Livro velho (2).
Davam-lhe, por ser mimoso, ou por afronta, a alcunha de Tenreiro; se é que o
Marquês de Montebelo não tem razão em pretender, que a verdadeira alcunha era Temeiro,
como quem diz teimoso, obstinado. Mostrou João Tenreiro a sua pertinácia num
caso contado pelo Nobiliário do Conde D. Pedro (3), e a seguir por mim
abreviado. Aires Anes de Freitas matara a Gil Martins, filho de D. Martim Peres
Ribeiro e primo segundo de João Tenreiro. Tomou este o caso a peito e,
simulando haver desafiado a Aires Anes, levou consigo seu primo direito Pedro
Alvelos até ao mosteiro de Fonte Arcada, onde matou o assassino de
(1) Os de Vasconcellos, cit., doe. 11.
(2) Portugaliae monumenta histórica. Scriptores, pág.
160.
(3) Ibidem, pág. 3 17.
seu outro parente,
o irmão de Aires Anes de Freitas e outros fidalgos recorreram a D.
Sancho II, que mandou emprazar ao Vasconcelos e ao Alvelos. Compareceu só este,
alegando em sua defesa haver sido enganado pelo primo, que o levara a Fonte
Arcada para um desafio e não para um assassínio, e que, se João Tenreiro o
negasse, lhe «metteria as mãos sobre ello». Foi então novamente emprazado o
fidalgo de Vasconcelos para vir responder ao repto, e êle não o fez, nem à
primeira nem às mais vezes, para que foi intimado, sendo guardadas muito bem
todas as praxes conforme ao uso. Em vista disto reuniu el Rei em Cabeço de Vide
um numeroso e escolhido conselho, e deu a sua sentença à revelia de João Peres.
Absolveu a Pedro Alvelos e lançou todo o castigo por este merecido ao que por
si próprio Já devia haver João Tenreiro, a quem deu o crime por provado. Foi
esta sentença muito louvada e João Peres de Vasconcelos «numca depois veo a
purgar seu rreto», dando mais prova de prudente, que de valoroso. Havia de se
ter passado este caso entre os anos de 1228 e 1246, pois João Tenreiro foi em
1248 servir a Castela no cerco de Sevilha, não sei se por andar foragido por
aquelas partes. Casou João Peres de Vasconcelos com Maria Soares, filha de
Soeiro Viegas Coelho e de D. Maior Mendes de Candarei, e dela teve, conforme o
Livro Velho das Linhagens: o bispo D. Esteve Anes de Lisboa (1), Rodrigo Anes
de Vasconcelos, Pedro Anes de Vasconcelos, Teresa Anes casada com João
Fernandes Franco, progenitores dos Orneias, ou melhor Dornelas, e Maria Anes,
mulher, segundo o Nobiliário do Conde D. Pedro, de Aires Rodrigues de Urro.
Pedro Anes de Vasconcelos possuiu com seu irmão mais velho a honra de
Vasconcelos, como mostram as Inquirições acima citadas, e dele a descendência
varonil terminou na primeira geração. Rodrigo Anes de Vasconcelos sucedeu na
casa e, como seu tio materno João Soares Coelho, foi trovador, existindo ainda
dele seis cantares (2). Casou e entre vários filhos, de que não persiste
descendência varonil, nasceu primogénito Mem Rodrigues de Vasconcelos. Sucedeu
este na casa, foi senhor dos coutos de Freiriz e Penagate, no se-
(1) Bispo muito duvidoso. Cfr. D. Rodrigo da Cunha,
Historia ecclesiastica da igreja de Lisboa p. II, cap. 65; Fortunato de
Almeida, Historia da Igreja em Portugal, I, 63o. É certo todavia ter existido
um mestre Estêvão Anes de Vasconcelos, presente à escritura de 8 de Fevereiro
de 1268 (1230), feita em Santarém, pela qual D. João Peres de Aboim doou uma
vinha em Alenquer, termo de Santarém, à Ordem do Templo {Livro de D, João de
Portel, doe. xlvi, no Archivo histórico portuguez, V, 65).
(2) D. Carolina Michaêlis de Vasconcelos, Cancioneiro
da Ajuda, lí, 558.
gundo dos quais, sendo meirinho mor de Além Doiro,
alcançou licença de D. Denis, em 5 de Outubro de 1322, para edificar na sua
herdade uma casa forte, a fim de ter ai o corpo em salvo, quando lhe cumprisse
(1). Esta torre «toda de cantaria, à qual se sobe por uma escada de mão pella
muita altura em que tem a porta, ainda neste anno de 1727 está em sua perfeição
e se vê juncto a estrada hindo de Braga para Ponte de Lima à mão direita. . .
Injustamente largaram de si este testemunho de valor, lealdade e nobreza os
senhores que venderão este couto e Torre» (2). Casou Mem Rodrigues de
Vasconcelos por duas vezes, tendo sido filho primogénito do primeiro casamento
Joane Mendes de Vasconcelos, alcaide mor do castelo de Estremoz (3), onde
estivera por fronteiro em 1269 numa das guerras com Castela, e d'onde foi posto
fora pela arraia meúda nos princípios da revolução de 1383-84. Foi sua única
filha D. Aldonça de Vasconcelos, mulher de D. Martim Afonso Telo e mãe dos
Condes de Barcelos e de Neiva, da rainha D. Leonor Teles e de D. Maria Teles.
Já estava Mem Rodrigues casado pela segunda vez em 1 de Agosto de 1346 (1308)
quando, em Freiriz, sua segunda mulher, Constança Afonso, o constituiu seu
procurador para outorgar numa escritura de troca de propriedades com o
arcebispo de Braga D. Martinho, escritura celebrada naquela cidade a III das
nonas de Julho (5 de Julho) do mesmo ano (4). Era Constança Afonso irmã do
bispo de Lisboa D. João Afonso de Brito, instituidor do morgado da Arega, por
instrumento de 7 de Agosto de 1367 (1329), a favor de seu sobrinho Gonçalo
Mendes de Vasconcelos (5). Do casamento de Constança Afonso foram filhos, entre
outros, Martim Mendes e Gonçalo Mendes de Vasconcelos, de quem falarei, e entre
as filhas foi uma, D. Maior Mendes, a qual, segundo o Marquês de Montebelo seu
descendente (6), herdou a torre de Vasconcelos, e os mais bens da casa em terra
de Entre Homem e Cávado, os quais passaram aos descendentes de D. Maior e de
seu marido Gonçalo Machado, hoje representados pelo Conde da Figueira. Poderá
ser que assim fosse; mas Estêvão Rodrigues de Vasconcelos, irmão
(1) Lousada, Sumários da Torre do Tombo, fl. 450 mihi.
— Era a torre de Pena Gati, como então lhe chamavam, situada na freguesia de
Santiago de Vila Chã, hoje Santiago de Carreiras, e dela se obliterou
completamente o nome (Pedro de Azevedo, Os de Vasconcellos, cit., págs.
Sya-SyS).
(2) D. Afonso Manuel de Meneses, Titulo de
Vasconcelos, n." i5, no Nobiliário coordenado por Jorge Salter de
Mendonça, tom. XXIV, fl. 98 mihi.
(3) Carta de 8 de Dezembro de 1410 (1372). —
Chancelaria de D. Fernando, Liv. 1º, fl.
117.
(4) Lousada, Sumários da Torre do Tombo, II, 432 mihi.
(5) D. Rodrigo da Cunha, Historia ecclesiastica de
Lisboa, p. II, cap. 88. (6) Notas ao Nobiliário do Conde D. Pedro, pág. 15,
plana 305.
do Mem Rodrigues acima nomeado, instituiu em 1308 um
morgado, fazendo dele cabeça a quinta de Vasconcelos, com todas as suas
pertenças, em Entre Homem e Cávado, e nomeando para administrador àquele seu
irmão, à mulher deste, e em sucessão a eles seu filho Gonçalo Mendes e sua
geração (1). Ora a geração deste fidalgo foi muito dilatada, como o leitor logo
verá, pois que dele descenderam todos os bons Vasconcelos, e portanto não se
entende como a quinta deste nome passou aos descendentes de sua irmã, a não ser
a vinculada prédio diverso daquele onde estava a torre de Vasconcelos. Em 1642,
quando o Marquês de Montebelò, Félix Machado da Silva Castro e Vasconcelos,
dirigiu o seu Memorial a Felipe IV (2), era ele senhor da torre de Vasconcelos,
na freguesia de Santa Maria de Ferreiros, e doutra torre no vale de Geraz, em
terra de Lanhoso, a qual era o solar dos Machados e por alguns também é
designada impropriamente por torre de Vasconcelos. Das duas torres era
possuidor em 1758 um descendente do Marquês de Montebelò, seu terceiro neto D.
Jorge Francisco Machado de Mendoça Eça Castro Vasconcelos e Magalhães, capitão
de infantaria residente em Viana do Castelo, e alem de las ainda possuia a casa
de Castro com sua torre em Carrazedo e ainda outra torre em Dornelas (3). Foi
D. Jorge avô de D. Maria Amália Machado, sucessora da sua casa e segunda mulher
de D. José de Castelo Branco, I.° conde da Figueira (4), título tirado de um
morgado pertencente à sua primeira mulher sem ter nada de comum com a actual
cidade da Figueira, tendo-se dado a extravagância do título haver sido renovado
em um filho da segunda mulher. No seu Memorial revela-nos o Marquês de
Montebelò um pormenor interessante. Por ocasião do nascimento do príncipe D.
Baltasar Carlos, tam meu conhecido dos vivos, expressivos e numerosos retratos
de Velásquez, e portanto nas proximidades de 17 de Outubro de 1629, concedeu
Felipe IV, a instâncias da Rainha, o título de conde de uma das suas terras a
Félix Machado (5) e êle o tomou de Vasconcelos e o usou durante alguns meses,
até ser avisado da parte dei Rei que este o fazia marquês de Montebelò (6).
(1) Lousada, Sumários da Torre do Tombo, II, 448 mihi.
— De 1318 data a instituição, segundo Clemente Félix na Reposta que por aos
Oppositores da casa de Mafra em favor do Conde de Figueiró, pág. 5.
(2) Memorial del Marques de Montebello, s. 1., 1642,
deve ter sido impresso em Madrid.
(3) Memorias paroquiaes de 1758 compiladas no
Diccionario geographico do P.e Luís Cardoso, apontadas no est. artigo Os de
Vasconcellos, págs. 365 e 372.
(4) Despacho de 13 e carta de 17 de Maio de 1810. —
Chancelaria de D. João VI, liv. 21. de Doações, fl.. 172 v.
(5) Memorial cit., pág. 212.
(6) Ibidem, pág. 138.
Martim Mendes de Vasconcelos, o segundo filho varão de
Mem Rodrigues casou com D. Inês Martins, filha de Martim Pires, senhor de
Alvarenga, e nos descendentes deste casamento continuou o senhorio daquela
honra (1), e um deles foi o famoso secretário de Estado Miguel de Vasconcelos e
Brito, vítima da revolução do i.° de Dezembro de 1640. Entrou depois o morgado
na casa da Fervença em Barcelos. As armas dos Alvarengas são em campo de veiros
três faxas de vermelho, as dos Vasconcelos são em campo de negro três fachas de
veirado de prata e vermelho; e para ambas o timbre é um lião. Há pois muita
analogia entre os brasões das duas famílias, e tanto mais notável se torna esta
semelhança, quanto são raros os veiros e veirados nos escudos portugueses (2).
Também entre estes são de disposição bem singular, única para eles ambos, os
dos Almeidas e Meios, e contudo conhece-se menor relação entre estas duas
famílias, que entre as dos Alvarengas e Vasconcelos.
II SENHORES DE SOALHÃES E CONDES DE PENELA
Gonçalo Mendes de Vasconcelos, terceiro filho de Mem
Rodrigues de Vasconcelos, meirinho mor de Alem Doiro, foi. homem notável no
reinado de D. Fernando em cuja crónica é várias vezes nomeado. Ele lhe fez
doação por juro de herdade da terra de Soalhães e doutras no julgado de Vila
Chã, das rendas da Lousã, em préstamo, e das doutros lugares, e o nomeou
alcaide mor de Coimbra por carta de 25 de Julho de 1421 (1373), e por outra de
28 de Abril de 1416 (1378), sendo êle do conselho, o autorizou a usar, nos
julgados de Soalhães, Vila Chã, Loivos e Penela, de toda a jurisdição como usam
os condes, os mestres de cavalaria (ordens militares), o almirante, o prior do
Hospital e o abade de Alcobaça (3). Por morte de D. Fernando
(1) Por carta de 8 de Outubro de 1423 (i 385)
confirmou D. João I a João Mendes dO Vasconcelos a jurisdição de Alvarenga,
como a houvera Martim Pires seu avô. Por outra de 11 de Novembro de 1469
confirmou D. Afonso V a precedente a Gonçalo Mendes de Vasconcelos, neto do
referido Joane Mendes. — Liv. I da
Beira, fl. 274.
(2) Campo de veiros só se «ncontra no escudo dos
Alvas, na primeira faxa dos Saraivas e no segundo e terceiro quartel dos
Monroys, mas estes são espanhóis; faxas veiradas só aparecem nos Vasconcelos e
seus derivados.
(3) Memórias de Gonçalo Mendes de Vasconcelos nas
Chancelarias de D, Fernando e D. João I. Carta porque deu a Gonçalo Mendes de
Vasconcelos, em quanto sua mercê fosse, a terra de Pereira, no almoxarifado de
Coimbra, com todos os seus direitos foros e pertenças.
acompanhou a rainha D. Leonor, sua sobrinha neta, para
Alenquer, quando ela para lá retirou, fugindo de Lisboa. Conservou-se sempre
bastante inde-
-Lisboa,
7 de Outubro de 1407 (1369). — G. M. de V., nosso vassalo, por muitos serviços,
pura doação a ele e a todos seus herdeiros e sucessores, por jur de herdade, da
terra de Soalhães, Gondiços e Duas Igrejas de Vai de Pombos, no julgado de Vila
Chã e Buallim (?), com seus termos, jurisdições alta e baixa, mero e mixto
império, salvo as apelações. Coles, 10 de Março de 1410 (1372). — Carta per que
mandou entregar a G. M, de V. a terra de Frades e os casais de Sendim,
Gondinhães e Duas Igrejas, em pagamento de seus maravedis. Tentúgal, 12 de
Dezembro de 1410 (1372). — Carta per que mandou entregar o castelo de Coimbra a
G. M. de V. Lisboa, 25 de Julho de 1411 (1373). — G. M. de V., nosso vassalo,
coutaiftos-lhe a sua quinta de Nomães, no julgado de Vermoim, como foi sempre
coutada no tempo dos reis passados. Salvaterra de Magos, 28 de Fevereiro de
1412 (1374). A G. M. de V., cavaleiro, nosso vassalo, pura doação e a todos
seus herdeiros, da terra de Francos e casais de Sandim, com todos seus direitos
e foros. Torres Vedras, 25 de Dezembro de 1418 (1375). — G. M. de V. nos disse
que ele há uma quinta no julgado de Penela de Riba de Lima, a qual foi de Mem
Rodrigues de Vasconcelos e no seu tempo era coutada, etc. Confirma os
privilégios de couto para a quinta. Tentúgal, 15 de Março de 1415 (1377). — G.
M. de V., nosso vassalo e do nosso conselho, temos por bem e mandamos que ele
possa usar e use de toda jurdição nos julgados de Soalhães, Vila Chã, Loivos e
Penela, como parte com o julgado de Ponte de Lima, poendo em eles juízes em seu
nome, feitos pela guisa que na nossa jurisdição é conteúdo e que mandamos que
possam usar os condes e mestres da cavalaria e o almirante e o priol do
Hospital e o abade de Alcobaça; porem mandamos etc. Santarém, 28 de Abril, por João
Afonso, bacharel em leis, seu vassalo e ouvidor da Rainha, era de
1416(1378).Deu, em quanto sua mercê fosse, a G. M. de V. as rendas da vila da
Lousã, assi como as havia a infante D. Beatriz, salvo a jurisdição. Valada, 8
de Junho de 1416 (1378). — Deu em préstemo, em quanto sua mercê fosse, a G. M.
de V. os seus casais em termo de Guimarães, onde chamam Vizela. Portalegre, 11
de Abril de 1418 (1380). — Ao almoxarife e escrivão de Coimbra, e aos juízes e
justiças da Lousã mandamos-vos, que logo vista esta carta e sem outro embargo
nenhum leixedes haver e recadar e receber a G. M. de V., nosso vassalo, ou a
quem el mandar, toda las rendas e direitos e ações dessa vila e termo, deste
ano que ora anda da era desta carta em diante. Rio Maior, 15 de Novembro de
1420 (1382). — G. M. de V., nosso vassalo, carta para lhe ser desembargada a
terra de Varzela, que de nós tem em préstamo. Rio Maior, 7 de Março de 1421
(1383). — Chancelaria de D. Fernando. liv. i., fls. 46V., 101 v., 117, 128 v.,
141 e 285; liv. 2.°, fls. 2 v., 3o, 3ov. e 61 ; liv. 3.", fls. 37 v, e 5a
v. G. M. de V., nosso vassalo, confirmação da terra da Lousã. Lisboa, 19 de
Maio de 1422 (1384). — A G. M. de V. deu, em quanto sua mercê fosse, a portagem
da cidade de Coimbra. Lisboa, 27 de Setembro de 1422 (1384). — Lerabrando-nos
em como G. M. de V. fez a el rei D. Pedro, nosso padre, e a el rei D. Fernando,
nosso irmão, e a nós muito serviço e, consirando nós em como o dito G. M. «he
boõ caualeiro leal e verdadeiro», querendo- lhe fazer graça e mercê, faz-lhe
pura doação para êle e para todos aqueles que dele descenderem por linha
direita, do reguengo de Cantanhede, com todo seu termo, por jur de herdade, com
a jurisdição cível e crime, como havia o Conde D. Álvaro Pires [de Castro].
Coimbra, 16 de Abril de 1423 (1385). — O concelho e homens bons do julgado de
Alvarenga enviaram-nos dizer, que nós não havemos no dito julgado outra renda
senão tam somente
ciso sobre o partido a tomar, apesar de dois de seus
filhos se terem juntado logo ao Mestre de Avis. Indeciso se manteve sempre no
castelo de Coimbra e, apesar de ter tomado parte nas Cortes lá reunidas em
Abril de 1385, pareceu melhor a D. João I substituí-lo na alcaidaria e dá-la a
Lopo Vásques de Siqueira, futuro comendador mor de Avis (1). Foi Gonçalo Mendes
compensado com a doação de juro e herdade do reguengo de Cantanhede, por carta
de 16 de Abril de 1423 (1385), na qual, para lhe doirar a pílula, há referência
aos seus bons serviços a D. Pedro, D. Fernando e ao próprio D. João I, por ser
«boÕ cavaleiro, leal e verdadeiro». Não lhe podendo todavia manter esta doação,
deu-lhe D. João I, em troca, por carta de 20 de Abril de 1427 (1389), a vila da
Lousã de juro e heredade. Morreu em Setembro de 1407, deixando testamento no
qual se refere às suas más contas na tutoria dè seu neto Rui Vasques Ribeiro
(2). Casou Gonçalo Mendes de Vasconcelos pela primeira vez, antes de Junho de
1343, com D. Maria Teles (3), filha de D. Afonso Martins Telo, alcaide de
Marvão, e de D. Berenguela Lourenço de Valadares. Dão-lhe os nobiliários mais
três mulheres, só encontro porém referência justificada a mais outra, D. Teresa
Rodrigues Ribeira, herdeira do morgado de Soalhães, filha de Rui Vasques
Ribeiro, 2.° senhor daquele vínculo. Gonçalo Mendes de Vasconcelos foi sepultado
em S. Domingos de Coimbra onde lhe puseram este epitáfio: Aqui ja Gonçalo
Mendes de Vasconcellos, que foi hum dos bons cavalleiros que ouve em seu tempo
em Portugal e sua molher dona Tarefa Ribeyra e seu filho Ruy Mendes e dona
Leanor Pereira
ciso sobre o partido a tomar, apesar de dois de seus
filhos se terem juntado logo ao Mestre de Avis. Indeciso se manteve sempre no
castelo de Coimbra e, apesar de ter tomado parte nas Cortes lá reunidas em
Abril de 1385, pareceu melhor a D. João I substituí-lo na alcaidaria e dá-la a
Lopo Vásques de Siqueira, futuro comendador mor de Avis (1). Foi Gonçalo Mendes
compensado com a doação de juro e herdade do reguengo de Cantanhede, por carta
de 16 de Abril de 1423 (1385), na qual, para lhe doirar a pílula, há referência
aos seus bons serviços a D. Pedro, D. Fernando e ao próprio D. João I, por ser
«boÕ cavaleiro, leal e verdadeiro». Não lhe podendo todavia manter esta doação,
deu-lhe D. João I, em troca, por carta de 20 de Abril de 1427 (1389), a vila da
Lousã de juro e heredade. Morreu em Setembro de 1407, deixando testamento no
qual se refere às suas más contas na tutoria dè seu neto Rui Vasques Ribeiro
(2). Casou Gonçalo Mendes de Vasconcelos pela primeira vez, antes de Junho de
1343, com D. Maria Teles (3), filha de D. Afonso Martins Telo, alcaide de
Marvão, e de D. Berenguela Lourenço de Valadares. Dão-lhe os nobiliários mais
três mulheres, só encontro porém referência justificada a mais outra, D. Teresa
Rodrigues Ribeira, herdeira do morgado de Soalhães, filha de Rui Vasques
Ribeiro, 2.° senhor daquele vínculo. Gonçalo Mendes de Vasconcelos foi
sepultado em S. Domingos de Coimbra onde lhe puseram este epitáfio: Aqui ja^
Gonçalo Mendes de Vasconcellos, que foi hum dos bons cavalleiros que ouve em
seu tempo em Portugal e sua molher dona Tarefa Ribeyra e seu filho Ruy Mendes e
dona Leanor Pereira
a
jurisdição, e nos pediam por mercê que a déssemos a G. M. de V., porque foi de
sua avoenga. E nós vendo etc. Carta da jurisdição cível e crime, salvando a
apelação etc. Guimarães, 8 de Janeiro de 1425 (1387). — G. M. de V. carta de
pura doação para sempre, para êle e para seus filhos e netos e descendentes
lídimos, da vila da Lousã, com a jurisdição cível e crime, reservando a
correição e alçada. E esta doação lhe fazemos e damos em emenda dos reguengos
de Cantanhede, de que lhe havíamos feita mercê e lhos tiramos e demos a outrem.
Lisboa, 20 de Abril de 1427 (1389). Chancelaria de D. João I, liv. i.», fls.
35, 64, 126 V. e 181 ; liv. 2.», fl. 16.
(1)
Fernão Lopes, Chronica de D. João I, part. 11, pág. 13.
{2)
Pedro de Azevedo, Os de Vasconcellos cit., págs. 373 e 374.
(3)
Por instrumento de 13 de Junho de 1381 (1343) fizeram-se as partilhas entre os
filhos de Mem Rodrigues de Vasconcelos, comparecendo João Dornelas, cavaleiro,
procurador de Gonçalo Mendes de Vasconcelos e de D. Maria Teles sua mulher, e
de Gonçalo Esteves de Tavares e de Leonor Rodrigues [de Vasconcelos] sua
mulher, filha do dito Mem Rodrigues, e ainda Pêro de Oliveira, abade de S.
Miguel de Penagate, procurador de Vasco Gonçalves Barroso e de sua mulher Mecia
Rodrigues, também filha de Mem Rodrigues.— Lousada, Sumários da Torre do Tombo,
II, 45 1 v. mihi.
molher
que foi de Joanne Mendes que se finou a 20 de Septembro de 1440 (1). Na mesma igreja
estava o túmulo de sua mulher, com o seguinte epitáfio: Aqui jai dona Tareja
Ribeira molher que foi de Gonçalo Mendes de Vasconcellos e finousse a 21 de
Julho de 1428 e foy hutna das boas donas que em seu tempo ouve em Portugal {2),
Filhos varões de Gonçalo Mendes de Vasconcelos nomeiam os nobihários os três
seguintes: Joane Mendes de Vasconcelos, 2.° senhor do julgado de Soalhães e 4.°
administrador deste vínculo, seguirá; Rui Mendes de Vasconcelos I.° senhor de
Figueiró e Pedrógão, ocupará o capítulo III; e Mem Rodrigues de Vasconcelos.
Nomeio-os pela ordem por que se encontram no Nobiliário quinhentista (3),
entendendo-se deverem ser todos filhos de D. Teresa Rodrigues Ribeira, por ter
o mais velho sucedido tanto no senhorio do pai, como no morgado da mãe. Mem
Rodrigues de Vasconcelos, Outro também famoso cavalleiro, Que a ala direita tem
dos Lusitanos, Apto pêra mandalos, e regelos, Men Rodriguez se diz de
Vasconcelos (4). Combateu denodadamente na batalha de Aljubarrota, em 14 de
Agosto de 1385, comandando a famosa ala dos Namorados, não sendo ainda então
mestre da Ordem de Santiago, apesar de ter sido investido neste alto cargo
muito antes do ano de 1402 assinalado na história impressa da Ordem (5). Direi
muito resumidamente o que deste célebre cavaleiro tenho encontrado na
Chancelaria e no famoso Livro dos Copos, registo de documentos antigos da Ordem
de Santiago, mandado fazer pelo seu ínclito Mestre el rei D. João II (6). . Em
fins de 1383 começaram, com o assassínio do Conde Andeiro e a ida de D. Leonor
Teles para Alenquer, as perturbações que ao reino trouxe a
(1)
Lousada, Sumários da Torre do Tombo, II, 444 v. mihi, com a era errada, pois
de- Teria lá estar 1445 e não 1440.
(2)
Ibidem, entendendo-se 1428 do nascimento de Cristo e não da era de César.
(3)
Págs. 324, n.º II e ni, e pág. 328, nº xiv.
(4)
Luís de Camões, Lusíadas, canto IV, est. 24.
(5)
Fr. Agostinho de Santa Maria, Historia tripartita, pág. 349.
(6)
Neste cartulário o último documento, onde se nomeia o mestre D. Fernando Afonso
de Albuquerque, antecessor de D. Mem Rodrigues, tem a data de 20 de Junho de
142 1 (1383), na fl. 72 V.; e o primeiro passado em nome de seu sucessor, o
infante D, João, é de 16 de Junho de 1460 (1422), na fl. 74. voL. I
morte de D. Fernando. Nesse tempo dividirara-se logo
os bandos em dois: o da Rainha, com os fidalgos principais; o do povo, com o
Mestre de Avis à frente. Mem Rodrigues encostou-se de princípio, e desse lado
sempre permaneceu, ao partido de D. João, que, sendo regedor do reino, nos anos
de 1384 e 1385, desde 20 de Maio a i3 de Fevereiro, fez várias doações e mercês
ao seu soldado (1). Do valor e lialdade, com que este serviu ao Mestre de Avis
no cerco de Lisboa, dão boa prova as palavras da carta de doação de Monsaraz na
qual, referindo-se aos serviços de Mem Rodrigues, se especializam os feitos tem
estas tribulações nas quais o dito Mem Rodrigues serviu a nós, e a estes
reinos, e serve em cada um dia». Logo no primeiro ano do seu reinado, antes e
depois da batalha de Aljubarrota, continuou D. João I beneficiando este seu
valente partidário (2), que já nos fins deste ano de 1386 tinha o título de
vassalo dei Rei, e a promessa do mestrado de Avis. Esperava porém de o haver o
comendador mor da Ordem, Fernão Rodrigues de Siqueira, fidalgo que também
prestara valiosos serviços, e a quem D. João 1 desejava igualmente contentar.
Então, para se livrar de embaraços, determinou el Rei escolher para mestre
àquele dos dois que a Ordem elegesse. Venceu Fernão Rodrigues, que foi nomeado
mestre de Avis recebendo Mem Rodrigues em compensação o mestrado de Santiago,
declarando el Rei aos cavaleiros e freires da Ordem, que não havia por boa a
eleição por eles feita de Rui Freire para seu governador (3). Confirma os
dizeres do cronista uma carta dei Rei dirigida da cidade do Porto, em 3 de
Fevereiro de 1425 (1387), aos cavaleiros e freires da Ordem
(1) A Mem Rodrigues de Vasconcelos, doação do jantar
das Alhadas, termo de Montemor o Velho, em Lisboa, a 20 de Maio de 1422 (1384);
na mesma cidade, a 14 de Junho, doação de bens nela situados pertencentes a
dois criados do Conde de Barcelos; a 20 de Junho, bens em Beja de outros
partidários de Castela; a 10 de Setembro, mais bens em Lisboa, estes de um
criado de Gonçalo Tenreiro, capitão mor da frota; a 24 do mesmo mês, sempre em
Lisboa, doação da vila de Monsaraz de juro e herdade; e finalmente, a 13 de
Fevereiro de 1423 (1385), em Torres Vedras, também de juro e herdade, doação de
toda a terra que Martim Correia havia dei rei D Fernando, tirando os casais já
doados ao dr. Gil do Sem, do conselho do Regedor do reino. — Chancelaria de D.
João /, liv. I.», fls. 11 v., 42, 49, 39 e 8 v.
(2) No Porto, a 10 de Abril de 1423 (1385), teve Mem
Rodrigues de Vasconcelos confirmação do jantar das Alhadas; a 19 de Maio, em
Ponte de Lima, doação de juro e herdade das terras de S. Martinho, Labruja,
Labrujeira, Santo Estêvão e Jaraz; a 6 de Novembro, em Guimarães, já com o
título de vassalo dei rei, as rendas, frutos, direitos e foros de Caminha,
também de juro e herdade; e a 28 de Dezembro, em S. Pedro de Gastei apar de
Chaves, teve mercê das jurisdições das suas terras. — Ibident, fls. 106, 143,
162 v. e 149.
(3) Fernão Lopes, Chronica de D. João I, p. II, cap.
189.
de Santiago, na qual lhes manda que obedeçam a D. Mem
Rodrigues, mestre da Ordem, que se havia deles queixado, e lhe guardem sua
bandeira, coma sempre o fizeram aos outros mestres seus predecessores (1). As
bulas são porem um pouco posteriores. A primeira é de Urbano VI c foi dada em
Roma a XIII das calendas de Março (17 de Fevereiro) do ano x do seu pontificado
(1388); nela aceita o Papa a resignação do mestrado feita por Estêvão, aliás
Rui, e confirma nele a Mem. A segunda é de Bonifácio IX,. tem a data de v dos
idos de Novembro (9 de Novembro) do ano 1 do seu pontificado (1389) e confirma
a precedente. Ambas foram publicadas em Lisboa, a 10 de Julho de 1391 (2).
Continuou D. Mem Rodrigues figurando nos anos seguintes em vários documentos,
d'entre os quais distinguirei a carta, dada em Lisboa a 25 de Fevereiro de 1431
(1393), pela qual D. João I fez doação ao Mestre e à Ordem «das casas que
chamam da Moeda Velha em Lisboa junto com a porta da Cruz, em que soem de estar
as Escolas, assim como partem com rua pública, e com a porta da Cruz, e com o
muro até ao mar, e com casas do mosteiro dacelhas (Cheias ?), e com casas de
Lopo Domingues Caeiro. . . das quais lhe fizemos doação para em elas fazer uns
paços para êle e os mestres, que depois dele vierem, poderem em elas poisar
quando vierem a Lisboa» (3). O último documento, em que encontro o mestre D.
Mem Rodrigues de Vasconcelos, é uma sentença de 11 de Julho de 1452 (1414),
pela qual foi tirada à Ordem a dizima das mercadorias saídas pela foz de
Setúbal (4). No ano seguinte dizem ter morrido (5). Não sei onde foi sepultado;
mas, como já se chegou a afirmar havê-lo sido no corpo da igreja de S.
Francisco de Évora, lá adiante esclarecerei o caso (6). Não casou, ainda então
isso era defeso aos cavaleiros das ordens militares, mas teve bastardos vários
filhos e filhas, tendo daqueles provindo os Vasconcelos de Elvas. Foram
legitimados os oito seguintes: Diogo Mendes, Inês Mendes e Leonor Mendes de
Vasconcelos, por cartas de 28 de Dezembro de
(1) Livro dos Copos fl. 69 v. — Por outra carta dada
no arraial de sobre Campo Maior, a 14 de Novembro de 1426 (138&), quitou D.
João I ao mestre D. Mem Rodrigues de Vasconcelos e à Ordem de Santiago as
colheitas riais a que eram obrigados pela passagem da água do rio do Roixo {Chancelaria
de D.Afonso V, liv. 5.*, fl. Sg v.; Archivo histórico portuguez, III, 405).
(2) Livro dos Copos, fl. 26 v.
(3) Chancelaria de D. João 1, liv. 2.", fl, 71 v.
(4) Liv. de Direitos riais, fl. 237 v.
(5) João Bautista de Castro, Mappa de Portugal, II,
44.
(6) Nota I no fim deste artigo.
1429 (1391), todos havidos de uma mulher solteira,
sendo ele escudeiro (1); D. Beatriz, Diogo Gonçalves e Gonçalo Mendes, por
cartas de 3 de Maio de 1446 (1408), sendo êle mestre e nomeando-se só a mãe da
primeira, que foi Inês Martins (2); e finalmente Mem Rodrigues e Joane Mendes,
por cartas de 5 do mesmo mês e ano, havidos, sendo êle mestre, um de Beatriz
Nunes e o outro de Constança Anes (3). Para emendar uma data errada por um
frade tomei tempo; mas por certo não o dará o leitor por mal empregado, pois
lhe disse, àcêrca de um Português notável, coisas que talvez ignorasse.
Voltemos à sucessão de Gonçalo Mendes de Vasconcelos. Confessou êle no seu
testamento, como já notei, dever certos dinheiros das rendas das terras de seu
neto Rui Vasques Ribeiro, do tempo em que havia sido seu tutor. Confessou ser a
dívida de quatro mil libras de dinheiros portugueses de boa moeda antiga, de
duzentos marcos de prata lavrada em baixela e de certas quintas em Entre Doiro
e Minho. Não se conformou Rui Vasques com o valor dado ao seu crédito, pediu
dele avaliação e foi a dívida de seu tutor fixada em sete mil e trezentas
coroas. Interveio então D. João I e, atendendo aos serviços do finado Rui
Mendes de Vasconcelos, pai de Rui Vasques, e a haver casado este «com Ana
Afonso, minha parenta», pagou-lhe as sete mil e trezentas coroas. Satisfeito
Rui Vasques, substitui-se-lhe a fazenda rial e exigiu de Joane Mendes de
Vasconcelos, filho sucessor de Gonçalo Mendes, o pagamento da dívida. Deixou
êle correr o processo à revelia; foram vendidas as terras da Lousã, por mil e
setecentas dobras. Vila Chã e Penagate, por cento e vinte, Soalhães, por cento
e cinquenta, Penela, por setecentas, e Larim, por duzentas e dez. Em seguida
foi-lhe comunicada a arrematação a fim dele dizer de sua justiça.. Acudiu só
então Joane Mendes; reclamou pelo baixo preço das arrematações; e alcançou
compôr-se com a fazenda rial nestas bases: a vila da Lousã ficaria na posse da
Coroa, no valor porém de quatro mil coroas; do saldo de três mil e trezentas
coroas seriam abatidas as rendas das terras desde o sequestro, salvo a do ano
de 1413 da Lousã; e o restante haveria de ser pago dentro de dois anos. Nestes
termos podia Joane Mendes de Vasconcelos tomar desde logo posse das terras de
Penela, Vila Chã, Larim e Soalhães, como havia antes de serem sequestradas. Foi
a composição ratificada por carta régia de i3 de Setembro de
(1) Chancelaria de D. João I, liv. 2.°, fl. 61 v.
(2) Ibidem Liv.III, fl. 81 v.
(3) Ibidem, fls.,81 e 81 v.
1451 (1413)(1). Finalmente, passados, não dois anos,
mas perto de sete, foi Joane Mendes de Vasconcelos, por carta de 8 de Abril de
1468 (1420), dado por quite para com a fazenda rial, ficando contudo só com
Soalhães e metade de Penela(2). Não fora porem só esta a dívida deixada por
Gonçalo Mendes de Vasconcelos. Quando êle faleceu ainda se encontrou a sua
herança gravada com duas mil e quinhentas dobras moiriscas, de bom oiro e justo
peso, das quais era credor a fazenda rial. Para sua segurança tomou ela posse
das terras de Penela, Penagate, Landim e Vila Chã, na comarca de Entre Doiro e Minho,
e da de Soalhães, na de Trás os Montes. Entretanto celebrava-se a composição
com Joane Mendes de Vasconcelos relativa à divida da tutoria, e D. João I, por
carta de 27 de Maio de 1455 (1417), fazia mercê das duas mil e quinhentas
dobras moiriscas do seu segundo crédito a Gonçalo Pereira, seu criado (3) e
provavelmente já então casado com D. Beatriz de Vasconcelos, filha do mestre D.
Mem Rodrigues, à qual, por carta de 17 do mês
seguinte, fez seu irmão Diogo Mendes de Vasconcelos doação de todos os bens
da sua legítima paterna, tanto os patrimoniais, como as terras da Coroa, feudos
e morgados que lhe pertencessem herdar de seu pai (4). Foi esta doação logo
confirmada por D. João I e posteriormente por D. Duarte, por carta de 25 de
Agosto de 1434, sendo então D. Beatriz certamente já casada (5). Gonçalo
Pereira,era o das Armas, 2. senhor de Cabeceiras de Basto, e juntamente com sua mulher vendeu ao 8.° Conde
de Barcelos por escritura de 7 de junho de 1441, confirmada por D. Afonso V a
10 do mês seguinte, as terras de Penela contra o Levante, Vila Chã, Larim e
couto de Penagate, com todo los casais, herdamentos e direitos que com elas
vieram em partilha a Diogo Mendes, irmão de D. Beatriz, de quem ela as houve
(6). Quando Gonçalo Mendes de Vasconcelos morreu existiam apenas dois filhos
legítimos seus, D. Mem Rodrigues de Vasconcelos, mestre de Santiago, e Joane
Mendes de Vasconcelos. Eram eles os herdeiros de todos seus bens próprios e
terras da Coroa, tirando algumas heranças nas quais por direito Joane Mendes
havia de suceder a sua mãe. Não se entenderam os irmãos na partilha e, posta
demanda, proferiu o infante D. Duarte, a quem recorreram, a sua sentença,
mandando dividir pelos dois irmãos, em partes iguais.
(1) Chancelaria de D. João I, liv. 3.°, fl. 162 v.
(2) Chancelaria de D. Afonso V, liv. 34.°, fl. 73,
transcrita noutra de confirmação.
(3) Chancelaria de D. João I, liv. 3., fl. 200 t.
(4) Ibidem, liv. 4. fl. 1 v.
(5) Chancelaria de D. Duarte^ liv. i.", fl. 35.
(6) Liv. 2. de Místicos, fl. 222 v.
os bens e terras do pai, sugeitos, também em partes
iguais, à obrigação do pagamento das dívidas (1). Sobre esta sentença se baseou
a já citada carta de 8 de Abril de 1468 (1420), pela qual Joane Mendes ficou
com Soalhães e metade de Penela. Em virtude da mesma sentença ficaria o Mestre
de Santiago com a outra metade de Penela, Vila Chã, Larim e Penagate, terras
por sua filha D. Beatriz de Vasconcelos e seu marido Gonçalo Pereira vendida ao
Conde de Barcelos pela escritura de 7 de Junho de 1441 acima citada. Pareceu-me
curioso deixar notadas estas diversas transacções, não só para mostrar a forma
benévola como nelas intervinha o soberano, mas também para justificar a
relativa decadência a que ficou reduzido Joane Mendes de Vasconcelos. Era êle,
a pesar de na carta de 8 de Abril de 1420 vir nomeado em segundo lugar, o
«filho primeiro lídimo» de Gonçalo Mendes e por esse facto lhe havia sucedido na
honra de Soalhães, como declara uma carta de 2 de Setembro de 1434, à qual lá
adiante me reportarei. Houve pois Joane Mendes de Vasconcelos, em sucessão a
seu pai, os senhorios do julgado de Soalhães e de metade da terra de Penela,
como lá acima ficou dito, e mais, por eleição do concelho e homens bons do
julgado, confirmada por carta régia de 9 de Maio de 1446 (1408), o senhorio da
terra de Mós (2). A sua mãe sucedeu no morgado de Soalhães, do qual foi o 4.º
administrador. Era este morgado grande, rendoso e honorífico. Compreendia bens
em Coimbra, Viseu, Lisboa e Porto, e ao seu administrador pertencia o direito
de apresentar um cónego na Sé de Lisboa, na cònezia chamada das Abitureiras (3)
e depois de Mafra. Fora o vínculo instituído por D. João, bispo (1) Desta sentença teve uma vaga idea o P.
Sousa e a ela se refere no tomo XII da Historia genealógica pág. 2, com a data
errada, «21 de Outubro da Era de 1438, anno de Christo de 1400», quando o
infante D. Duarte tinha nove anos de idade. A verdade é que a data da sentença
não encontrei em parte nenhuma e só a ela há referência na carta régia, já
muita vez citada, de 8 de Abril de 1420.
(2) Chancelaria de D. João I, liv. 3.*, fl. 78.— José Anastácio de
Figueiredo, na sua erudita Memoria para dar hunia idèa justa do que eram as
Behetrias, impressa no tom. I das Memorias de Litteratura portugueza da
Academia R. das Sciencias, conta como os moradores do julgado da aldeia de
Mais, a qual não sabe identificar, escolheram a D. Henrique de Castro, filho de
D. Pedro de Castro, para no senhorio da terra suceder a seu velho pai, logo
após seu falecimento, escolha confirmada por carta régia de 6 de Maio de 1463
(págs. 131 e 197). D. Pedro de Castro era genro de Joane Mendes de Vasconcelos
e por sua morte tratou de se apossar das suas terras, como veremos; pode pois
muito bem ter alcançado a posse do senhorio da beetria de Mós, e esta ser a.
designada no documento de 1463, do qual só parece uma cópia de leitura nova,
pelo nome de Mais. (3) Carta de doação
do padroado das Abitureiras à capela de D. Jóao, bispo de Lisboa.
de Lisboa, em l3 de Maio de 1304 e confirmado por D.
Denis a 20 de Fevereiro do ano seguinte (1). D. João Martins de Soalhães foi
filho de Lourenço Martins e de Fruela Viegas. Estudou na Universidade de Paris,
tomou ordens sacras e, sendo capelão dei rei D. Denis, foi nomeado cónego de
Coimbra e nesta dignidade foi por ele enviado a Roma, d'onde voltou em 1290 com
o interdito, que pesava sobre o reino, levantado. Em 1291 já era cónego de Lisboa,
em 1294 bispo desta diocese, e logo embaixador a Castela e depois a Roma, e
ultimamente, em 1315, arcebispo de Braga. Sobreveio a idade e com ela os achaques
e fraquezas próprios, resultando entregar-se a dois assessores indianos, que
lhe trouxeram o desgosto de lhe ser imposto, em 1323, um coadjutor. Finalmente
morreu a i de Maio de 1325. Foi sepultado na igreja da Sé de Braga, numa capela
por ele fundada, d'onde foi trasladado para um túmulo embutido na parede,
pondo-se-lhe então este epitáfio: Huc translata siint ossa Dñi loannis de
Soalhães Archiepiscopi Bracharensts anno salutis 1511 (2). Na Sé de Lisboa
fundara, na charola, a capela de S. Sebastião, onde, na parede do lado do
poente, seu descendente o cónego Pedro Lourenço de Távora mandou gravar em 1588 uma longa inscrição com alguns erros,
sendo o principal dar ao bispo fundador o apelido de Vasconcelos (3). Nas
instituições dos vínculos o Bispo não nomeava os filhos como tais, -chamava-lhes
seus criados; do mais velho porem até existe a carta de legitimação dada por D.
Denis, em Santarém, a 28 de Janeiro de 1346 (1308), na qual lhe chama Vasco
Anes, seu vassalo, filho de D. João, bispo de Lisboa (4). Foi este Vasco Anes
de Soalhães o primeiro dos filhos nomeados pelo instituidor para a administração
do vínculo. Casou da primeira vez com Leonor Rodrigues, filha de Rodrigo Afonso
Ribeiro. Não foi muito feliz com esta mulher, «que fez torto a seu marido com
huum cavaleyro que ouve nome Joham Rodriguez Redomdo filho de Rodrigo Annes
Redomdo amdando «lia em casa del rrey dom Diniz e mandoa ell porem matar por
justiça» (5). -Santarém, 19 de Novembro
de 1341 (1303). Já por outra carta de 25 de Novembro de 1339 (1301), fizera D.
Denis doação do padroado da igreja de Santa Maria de Alvarelhos, bispado do
Porto, a ele próprio D. João, e não ao bispo. Chancelaria de D. Denis, liv.
3.», fls. 29 e 17. (1) Fr. Francisco
Brandão, Monarchia lusitana, VI, 42. (2)
D. Rodrigo da Cunha, Historia ecclesiastica de Braga, II, cap. 31; Historia ecclesiasticae
Lisboa, p. 11, caps, 76 a 81 . (3) D.
Rodrigo da Cunha, Historia de Lisboa cit., fl. 227 v.; Júlio de Castilho,
Lisboa antiga, p. II, tom. III, pág. 24.1,
(4) Chancelaria de D. Denis^ liv. 3., fl. 59. (5) Nobiliário do Conde D. Pedro nos Portugaliae
monumenta histórica. Scriptores pág. 338.
Deste malogrado casamento nascera único Rui Vasques
Ribeiro e extraordinário parece ter ele, depois de toda aquela tragédia, tomado
o apelido da executada mãe; mas assim sucedeu. Foi Rui Vasques o 2.° senhor do
morgado de Soalhães e casou, pela segunda vez, com Margarida Gonçalves, filha
de Gonçalo Anes de Briteiros, de quem teve a D. Teresa Rodrigues Ribeira, 3.ª
senhora do morgado de Soalhães, a qual morreu já viúva em 20 de Julho de 1428,
conforme o seu epitáfio acima transcrito. Casara com Gonçalo Mendes de
Vasconcelos, em quem comecei este capítulo, e fora mãe de Joane Mendes de
Vasconcelos. Foi este fidalgo casado com D. Leonor Pereira, filha de D. Álvaro
Gonçalves Pereira, prior do Hospital. Joane Mendes, apesar de irmão dos dois
capitães da ala dos Namorados e de cunhado do condestável D. Nuno Alvares,
seguiu, no começo das discórdias, o partido de sua parenta a rainha D. Leonor,
mantendo a sua voz no castelo de Estremoz, do qual era alcaide e d'onde foi
forçado a retirar pelo povo revoltado. Depois, aclamado rei o Mestre de Avis,
veio servi-lo. Morreu antes de Julho de 1434 e foi sepultado no convento velho
de S. Domingos de Coimbra, segundo consta do epitáfio, adiante transcrito, de
seu neto D. Fernando de Cascais, e no mesmo convento se encontrava o túmulo de
sua mulher com esta inscrição nele gravada: Aqui ja dona Leonor Pereira molher
que foi de Joanne Mendes de Vasconcellos, irmã do Condestable dom Nuno Alvares,
que se finou a 18 de Abril de 1449, foi húa das boas donas que oure en Portugal
{1). Deixou Joane Mendes de Vasconcelos com certeza duas filhas legítimas: D.
Maria e D. Teresa de Vasconcelos, e ainda mais outra, segundo parece, mas havia
de ter morrido antes do pai, ou ser ilegítima; chamou-se D. Beatriz de
Vasconcelos e foi primeira mulher de D. Fradique de Castro, o Tagarote (2).
Mais um filho, certamente ilegítimo se existiu, lhe aponta, entre outros
genealógicos, D. Jerónimo de Ataíde no seu Nobiliário por mim consultado quando
existia na biblioteca do Marquês de Castelo Melhor. Chama- lhe António de
Vasconcelos e afirma haver casado e ter-se apartado da mulher para tomar ordens
sacras, vindo a ser prior de Tentúgal (3) D. Teresa de Vasconcelos, a segunda
filha de Joane Mendes de Vasconcelos, havia casado pelos anos de 1423, como já
ficou dito (4), com D. Pedro de Castro, I.° senhor de Bemviver. Tratou êle,
logo em seguida à morte do
(1) Lousada, Sumários da Tôrre do Tombo, II, fl. 444
v. mihi,
(2) Nobiliário quinhentista, pág. 824, n.º 11.
(3) Veja-se a sua sucessão na Critica e historia, pág.
74.
(4) Na página 145, onde e na seguinte se deverá
emendar o nome desta senhora de Caterina para Teresa, que foi o verdadeiro,
¡Culpa da minha terrível caligrafia!
sogro, de se apossar das suas terras, contra o que
reclamou seu cunhado D. Afonso de Cascais e el rei D. Duarte mandou, em 13 de
Julho de 1434, expedir uma sentença pela qual declarava terem vagado para a
Coroa todas as terras, de que fora donatário Joane Mendes, por estarem incursas
nas disposições da Lei Mental, visto êle não ter deixado descendência varonil
(1). Aquelas terras eram Soãlhães e metade de Penela, e sucede que, mês e meio
após a sentença, foi feita doação da primeira delas ao filho da irmã mais velha
de D. Teresa; sucede mais ainda que, por carta de 23 de Abril de 1450, foi
confirmada a D. Pedro de Castro, como herdeiro de Joane Mendes por estar casado
com sua filha, a carta de 8 de Abril de 1420 pela qual a este fora dada
quitação das dívidas paternas e reconhecido o senhorio nas terras de Soãlhães e
de metade de Penela (2). D'aqui concluo, apesar do documento não estar claro,
mas outro o esclarece (3), que a D. Pedro fora feita doação de Penela, a outra
terra possuida pelo sogro. D. Maria de Vasconcelos, a primeira filha de Joane
Mendes de Vasconcelos, casou com D. Afonso, senhor de Cascais, e dele foi a
segunda mulher. Era D. Afonso filho bastardo do infante D. João e neto de D.
Inês de Castro. Havia casado em primeiras núpcias, em 1408, com D. Branca [da
Cunha], filha do dr. João das Regras (4). Havia-lhe D. João I feito doação, por
carta de 8 de Maio de 1435 (1397), da vila de Cascais e do reguengo de Oeiras
de juro e herdade, bens em que lhe sucedeu sua viúva D. Leonor da Cunha e a
esta seu neto D. Pedro, por morte de quem vagaram para a Coroa, em virtude da
Lei Mental. D. Duarte porém, por carta de 2 de Junho de 1436, tudo confirmou à
irmã de D. Pedro, D. Isabel de Cascais, filha de D. Afonso de Cascais (5) e
futura condessa de Monsanto pelo seu casamento com o I.° Conde, a quem as
terras foram confirmadas por carta de D. Afonso V (1) Liv. I.° de Direitos Riais, fl. 271. (2) Chancelaria de D. Afonso V, liv. 34., fl.
73. (3) Este outro documento é a carta
de 11 de Julho de 1497 de confirmação da precedente a D. João de Castro, filho
de D. Pedro de Castro, na qual se declara ser a confirmação relativa à terra de
Penela somente (Chancelaria de D. Manuel, liv. 3o., fl. 35 v. No censo da
população mandado fazer em 1527, na comarca de Entre Doiro e Minho, lá vem
mencionada esta Penela, com a designação de «Penella de Dom Joham» (Archivo
histórico por- TUGUEZ, III, 25 I). (4)
Em carta de 4 de Julho de 1446 (1408) dirigida ao Almoxarife do celeiro de
Lisboa, declara D. João I haver de dar em casamento a D. Afonso, seu sobrinho,
com D. Branca, filha do dr. João das Regras, do conselho, 7000 dobras de oiro
para comprar herdades, e porque tam toste lhas não pode dar, «e êle toma ora
sua casa», manda-lhe dar os reguengos de Algés e Oeiras e todos os mais de
Ribamar, termo de Lisboa. — Chancelaria de D. João I, Lfv. 3.º, fl. 103 V. (5) Chancelaria de D. Duarte, liv. I.º, fl.
194 v.
de 10 de Outubro de 1449(1). Foram progenitores dos
Condes de Monsanto e Marqueses de Cascais. Não sei quando se realizaria o
segundo casamento de D. Afonso de Cascais, mas suponho curta duração ao
primeiro, por ver que em 1439, quando começaram os alvoroços em Lisboa contra a
rainha D. Leonor, viúva de D. Duarte, já D. Fernando de Cascais, filho do
segundo casamento de D. Afonso, o acompanhava. Era então D. Afonso alcaide mor
de Lisboa e com o filho e outros fidalgos parciais da Rainha se meteu dentro no
castelo, onde não pôde resistir por lhe faltarem os mantimentos e teve de o
entregar ao infante D. João, retirando-se para junto de D. Leonor. Quisera o
pai entregar logo o castelo, à primeira intimação do povo; «mas o filho por ser
mancebo, em que o sangue e pontos da honra ferviam, o ouve por abatimento »
(2). Era êle então já casado, porque no ano seguinte partiu para o desterro e
nesse mesmo ano lá morreu; não poderia por tanto ter muito menos de vinte e
cinco anos de idade e por isso o segundo casamento de seu pai deveria ter tido
lugar pelos anos de 1412 ou 13, isto é,
cinco depois do primeiro. D. Duarte, em seguida à sua sentença acima referida,
de 13 de Julho de 1434, pela qual declarou vagas para a Coroa ás terras
possuídas por Joane Mendes de Vasconcelos, fez doação, por carta de 2 de
Setembro do mesmo ano, da terra de Soalhães de juro e herdade a D. Fernando,
por ser seu sobrinho e do condestável D. Nuno Alvares Pereira, e alem disso por
êle ser neto por sua filha mais velha do último donatário, o referido Joane
Mendes (3). Ainda D. Duarte, encontrando-se em Montemor o Novo, mandou chamar à
sua presença, no dia 4 de Junho de 1436, a D. Álvaro de Castro e sua esposa D.
Isabel de Cascais a fim de darem quitação a D. Afonso, pai dela, a sua mulher
D. Maria de Vasconcelos e a seus herdeiros, de todos os bens móveis a D. Isabel
pertencentes, não só de sua legítima por morte e herança de sua mãe D. Branca
[da Cunha], como por sucessão de seu irmão D. Pedro, e de tudo mandou lavrar
nesse dia a respectiva carta (4). Seguiu-se, d'ali a pouco mais de ano e meio,
a morte de D. Duarte e em Setembro de 1439
(1) Chancelaria de D. Afonso V, liv. 34.", fl.
170.
(2) Rui de Pina, Chronica de D. Afonso V, pág. 264.
(3) Chancelaria de D. Duarte, liv. I.°, fl. 32.—Neste
diploma declara-se ter Joane Mendes de Vasconcelos sucedido no senhorio de
Soalhães a seu pai Gonçalo Mendes de Vasconcelos, por ser seu filho primeiro
lídimo, e terem as suas terras vagado para a Coroa por dele não ficar nenhum
filho lídimo, salvante duas filhas, D, Maria e D. Teresa. Por isso a terceira
filha D. Beatriz, havia de ser já falecida, ou não era legítima.
(4) Chancelaria de D. Duarte, liv. I., fl. 191 v.
começaram os alvoroços do povo de Lisboa contra a
rainha D. Leonor, nos quais D. Afonso e D. Fernando de Cascais se manifestaram
logo por ela. Tendo sido expulsos do castelo, como acima ia dizendo, foram pai
e filho ter com a Rainha a Alenquer e d'aí a acompanharam nas suas jornadas
pelo reino até Almeirim, d'onde ela partiu encobertamente para o Crato.
Constando no dia 1.° de Novembro a sua fuga, trataram seus parciais de a
seguir, e entre eles partiu o velho D. Afonso de Cascais, forçado da mulher e
do filho e muito contra vontade, pois se abraçou «com a terra e com muytas
lagrimas dizia: Leixaime comer a esta terra que me criou, e a que nom fuy nem
som treedor. Nom me desterreis este corpo sem culpa, nem lhe deis sepultura em
terras alheas. Mas em fym o levaram» (1). ¡ Pobre velho! !adivinhava a sua
sorte! Para o desterro partiu com a Rainha a 29 de Dezembro de 1440, e lá, em
Çamora, morreu juntamente com o filho em Agosto do ano seguinte (2), no qual
lhe nasceu o neto, o futuro Conde de Penela. Foram seus bens confiscados e, já depois
da morte dambos, doados, por carta de 19 de Março de 1441, ao 4,º Conde de
Ourem (3). Para Portugal voltou a viúva, ao terminar a regência do infante D.
Pedro, e trouxe consigo os ossos de seu filho, mandando-os para o convento
velho de S. Domingos de Coimbra, onde foram sepultados no jazigo de seu avô
Joane Mendes de Vasconcelos, gravando-se na loisa o seguinte epitáfio: Neste
moimento do Senhor Janemendes de Vasconcellos jazem os ossos do mui Illustre
Senhor Dom Fernando seu neto, o qual em seu testamento mandou que aqui fosse
lançado, trazido de Castella onde se finou em serviço da Rainha Dona Leanor
Madre del Rey Dom Afonso o 5.° de Portugal, e foi fílho de Dom Afonso e neto do
Infante Dom João que era filho del Rei Dom Pedro de Portugal e da Infante Dona
Inês de Castro sua molher (4). Pagou D. Afonso V a sua dívida de gratidão a D,
Maria de Vasconcelos, fazendo-lhe mercê de uma tença de trinta mil reais
brancos por carta de 6
(1) Rui de Pina, Chronica de D. Afonso V, pág. 310.
(2) Ibidem, pág. 323.—Não cause reparo o cronista
escrever «XXIX de Dezembro de myl e quatrocentos e quarenta e hum»; ele contava
pelo ano do Nascimento à risca, e esse tinha começado no dia 23 do mês. Veja-se
a prova da minha asserção no Archivo histórico por- tuguez, II, 486, sendo para
notar haver eu aí aduzido exemplos exactamente deste ano de 1440.
(3) Liv. 3." de Místicos, fl. 152.—Ainda por
outra carta de 25 de Janeiro de 1446 foram doados uns prédios, que ele possuíra
em Ferreira, a Lopo Mendes de Vasconcelos, cavaleiro do infante D. Pedro
(Archivo histórico portuguez, III, 410) e talvez filho do mestre D. Mem
Rodrigues de Vasconcelos.
(4) Lousada, Sumários da Torre do Tombo, II, fl. 444
mihi. I
de Abril de 1451, na qual se refere aos muitos e bons
serviços por ela «feitos a nós e à senhora Rainha minha madre» (1). Casara D.
Fernando de Cascais, antes de ir para o desterro, com D. Isabel Coutinho a
quem, sendo ainda solteira, fora confirmada a terra de Aregos por carta de 15
de Fevereiro de 1434(2). Era D. Isabel filha única de D. Pedro de Meneses, 2.°
conde de Viana, e de sua mulher a condessa D. Beatriz Coutinho, senhora da
referida terra em sucessão a seu pai, Fernão Martins Coutinho, a quem ela fora doada
por carta de 11 de Janeiro de 1480 (1392) (3). D. Isabel acompanhou o marido
para Castela e lá, conforme parece, casou em segundas núpcias com João Freire
de Andrade, senhor de Alcoutim, de quem foi primeira mulher e não teve sucessão
(4). D. Isabel já tinha morrido em 23 de Outubro de 1460, quando, por sua
morte, foi a terra de Aregos confirmada a seu filho D. Afonso, sobrinho dei rei
(5) e futuro conde de Penela. Por este casamento veio a entrar na casa de
Penela o senhorio de parte da vila de Mafra, pois que a Fernão Martins
Coutinho, avô de D. Isabel, havia sido aquela vila doada, juntamente com a
Ericeira, a Enxara dos Cavaleiros e o Ulmarinho, por escritura de 2 de Março de
1398 lavrada em Lisboa, nos paços riais, em presença de D. João I que a aprovou.
Era a escritura de casamento de Leonor Lopes [de Sousa], filha do mestre de
Cristo D. Fr. Lopo Dias de Sousa, com Fernão Martins Coutinho e foi a doação
feita aos esposados, em suas vidas, e a seus descendentes (6). E para maior
segurança fez D. João I, por carta de 25 de Julho de 1396, doação ao referido
Fernão Martins Coutinho das ditas terras, para ele e sucessores, com as
jurisdições, mero e mixto império, etc. (7). No ano seguinte morreu Fernão
Martins Coutinho sem testamento, deixando duas filhas, D. Beatriz e D. Felipa.
Sua viúva, D. Leonor Lopes de Sousa, só veio a falecer em 1421, havendo tornado
a casar com Afonso Vasques de Sousa, filho de Martim Afonso de Sousa, 2° senhor
de Mortágua, de quem deixou vários filhos. Afonso Vasques manteve-se, depois de
enviuvar, na posse dos bens da mulher, até que em 1425 suas enteadas o ci
(1) Chancelaria de D. Afonso V, liv. 37.º, fl. 28 v.
(2) Chancelaria de D. Duarte, liv. I.º, fl. 87; liv.
3." da Beira, fl. 137.
(3) Ibidem.
(4) Nobiliário quinhentista, pág. 269, n. XVI, onde
lhe chama D. Isabel de Meneses.
(5) Liv. 3.° da Beira, fl. 136 v.
(6) Gaveta XIV, maç. 4., n.° I.
(7) Chancelaria de D. João I, liv. 2.", fl.
122.
taram para partilhas. Começou a correr a demanda;
morreu o réu e continuaram nela seus filhos. Entretanto casavam as duas filhas
de Fernão Martins Coutinho: D. Beatriz Coutinho com D. Pedro de Meneses, conde
de Vila Rial, em Sintra, a 17 de Agosto de 1426, «nos paços dei rei D. João, na
casa em que ora pousa D. Beatriz Coutinho, casa que é dentro no corral dos
ditos paços» (1); D. Felipa Coutinho casou pouco depois com Luís Álvares de
Sousa, escudeiro da casa do infante D. Duarte, e teve em dote duas mil e quinhentas
coroas do cunho dei Rei de França, as quais lhe prometeu D. João I, dando-lhe,
por carta de 17 de Junho de 1420, feita em Sintra, em quanto lhas não pagava,
uma tença de um conto de libras, do I.° de Janeiro passado em diante, assentada
no almoxarifado de Vila Rial (2). Luís Alvares de Sousa foi 3.° senhor de Baião
e já era provedor da fazenda do Porto em princípios de 1451 (3). Foi
prosseguindo o pleito até que D. Duarte, por sentença de 18 de Junho de 1436,
mandou proceder à partilha (4). Feita ela, dividiram-se as terras, passando a
Ericeira e dois quinhões de Mafra a D. Felipa Coutinho (5) e ficando os três
quinhões restantes daquela terra e a Enxara à Condessa de Vila Rial,
seguidamente aos sucessores de sua filha, os Condes de Penèla. Eram estas
terras consideradas bens patrominais e, como tais, eram partilhadas e possuídas
sem confirmações régias; mas o 2." Conde de Penela, acautelando- se contra
possíveis dúvidas futuras, solicitou e impetrou de D. Manuel a carta de 6 de
Junho de 1517, pela qual, tanto quanto em direito podia, ele lhe confirmou de
juro e herdade os três quinhões da vila de Mafra (6). Passou este senhorio do
filho primogénito do 2.° Conde de Penela, D. Afonso de Meneses falecido sem
descendência legítima, para seu irmão D. António de Vasconcelos e Meneses, que,
sendo já muito velho, casou e teve um filho. Ao seu nascimento assistiu um
ministro da justiça e comenta D. Afonso Manuel de Meneses no seu nobiliário:
«melhor fora assistir à mãy no acto de conceber». Para um eclesiástico e
desembargador da Casa da Suplicação é bom comentário.
(1) Gaveta II, maç. I.°, n.º l0.
(2) Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa, Livro 3.°
de D. João I, fl. 56.— O contrato de casamento é de 21 de Junho de 1428
(Chancelaria de D. Afonso V, liv. 15., fl. 163.
(3) Carta de 6 de Maio de 1451, arbitrando-lhe 25.716
reais de mantimento com o dito ofício. — Chancelaria de D. Afonso V, liv. II.º,
fl. 69 v.
(4) Lousada, Sumários da Torre do Tombo, III, fl. 480
v. mihi.
(5) Por carta de 4 de Setembro de 1450 foram
confirmados a Luís Alvares de Sousa os privilégios do seu lugar da Ericeira e
os do lugar de Mafra, em que teve alguma parte. — Chancelaria de D. João III,
liv. 16. de Doações, fl. 154.
(6) Chancelaria de D. Manuel liv. 10.°, fl. 55.
Este tal filho chamou-se D. João Luís de Vasconcelos e
Meneses, foi senhor de Mafra e da dízima do pescado da Ericeira, tendo passado
a Enxara dos Cavaleiros, os concelhos de Soalhães e Aregos e outras terras da
Coroa a seu primo, D. João de Vasconcelos e de Meneses, filho ilegítimo do
referido D. Afonso de Meneses. A pedido deste e por influência de Martim
Gonçalves da Câmara, valido de D. Sebastião, foi dado, em 13 de Agosto de 1566,
um alvará de lembrança ao referido D. João de Vasconcelos para suceder ao pai
naqueles bens da Coroa, casando com D. Caterina de Eça, donzela da rainha D.
Caterina e neta de sua camareira mor D. Joana de Eça. Veio a mercê a
realizar-se, sendo lhe confirmados os bens por cartas de 16 e 17 de Junho de
1594 depois de efectuado o casamento e de falecido o pai (1). D. Caterina de
Eça era filha de António Gonçalves da Câmara e neta de Pêro Gonçalves da
Câmara, irmão do 3.° Capitão do Funchal, e de sua mulher a referida D. Joana de
Eça. A propósit-o. desta senhora contarei uma anedocta que lhe é atribuída. Um
dos factos alegados pelo Prior do Crato D. António, para provar o casamento de
seu pai com Violante Gomes, «foi o que lhe aconteceu indo ela ao convento de
Odivelas em um dia em que ali se achava D. Joana de Eça, camareira mor da
rainha D. Caterina, a qual logo que entrava na igreja lhe chegou uma almofada
para assentar-se, e que o não faria a não ser casada com o Infante; porém esta
Camareira mor por tola era capaz de praticar destes despropósitos» (2). D. João
Luís de Vasconcelos e Meneses, senhor de Mafra, morreu em Madrid a 5 de
Dezembro de 1633 (3), sem deixar filhos, seguindo-se à sua morte porfiada
demanda entre vários contendores sobre o senhorio de Mafra, o qual, por
sentença de 17 de Setembro de 1648 (4), foi adjudicado a D. Joana
(1) Confirmações gerais, liv. 7.º, fls. 51 v. e 53.
(2) Memorias raras e celebres, copia de um M. S.
Anommo, que parece escripto no fim do século passado, letra do último quartel
do século XVII. Era da livraria do Marquês de Valada e emprestou-mo o Conde de
Caparica seu filho.
(3) Consta do epitáfio na igreja da Graça de Santarém,
na parede do lado do evangelho, na capela dos Condes de Penela: Na sa do tumulo
q esta no mo (meio) desta capella esta dô io (João) luis de ms (Meneses) e
vasc° (Vasconcelos) sr. de mafra de dõ auto de Tns e vascos e neto e erdro dos
condes de penela e quinto neto do ifante dõ juan filho legitimo del rei do po
(Pedro) de poriugal viveo 57 annos e acabou a 5 de dezbro de 1633 e por morrer
na corte de Madrid mandou trazer de la o seu corpo inteiro dona mª (Maria) de
castro sua molher lhe mãodou fazer esta
sª ela tãobem escolheo pª se sepultar,
anno 1637. No meio da capela, no pavimento lá está uma grande campa lisa. É a
sepultura mencionada nó letreiro da parede. Por cima deste vê-se um escudo com
as armas do reino, com sete castelos na bordadura, diferençadas por um banco de
pinchar de dois pendentes; o escudo sobrepujado de uma coroa de florões.
(4) P.e Sousa, Historia genealógica XII, 116.
de Meneses terceira neta de D. Afonso de Meneses,
condessa de Armamar pelo seu primeiro casamento, sem geração, e viscondessa de
Vila Nova da Cerveira pelo segundo, tendo-se continuado a casa de Mafra com os
senhorios de Soalhães, Aregos e Enxara nos descendentes deste matrimónio até ao
último Marquês de Ponte de Lima, por cujo falecimento passou a casa ao último
Marquês de Castelo Melhor do sangue dos Vasconcelos. Examinadas, muito pela
rama concordo, as fases por que passou a sucessão nos senhorios de Mafra e
Soalhães, tornarei lá atraz ao filho único de D. Fernando de Cascais. Nasceu em
1441, chamou-se D. Afonso e sem apelido nenhum, só com a designação de «nosso
sobrinho, filho de D. Fernando de Cascais», aparece de principio em documentos
régios, entre eles, em duas cartas de 23 de Outubro de 1460, de confirmação da
terra de Soalhães, por morte do pai, e do concelho de Aregos, por morte da
mãe(1). Em 1465, por outras duas cartas, uma de 23 de Junho e a outra de 5 de
Dezembro, fez-lhe D. Afonso V respectivamente doação da vila de Penela, no
actual distrito de Coimbra, com as jurisdições, e do reguengo de Campores, no
termo da vila, tudo em sua vida somente, sendo já na segunda destas cartas
designado por D. Afonso de Vasconcelos (2), único apelido com que o encontro
mencionado em diplomas e crónicas. Seis anos depois, por carta de 24 de Outubro
de 1471, foi feito conde de Penela, «com todas as honras e preeminências que
são e devem ser outorgadas aos condes que de sangue rial como êle descendem»
(3); e, atendendo a esta circunstância, foi-lhe o assentamento de cento e
quarenta e cinco mil reais elevado a duzentos mil por carta dada em Çamora, a
23 de Novembro de 1475(4). Já era casado em 12 de Outubro de 1467, quando D.
Afonso V fez mercê a D. Isabel da Silva, para quando o senhorio por qualquer forma vagasse, do reguengo de
Campores, que havia doado a D. Afonso de Vasconcelos, seu marido (5). O Conde de Penela serviu em Africa: em 1459,
em Arzila, com o Conde D. Duarte; em 1463, no escalamento de Tânger, perdendo
na ida o seu navio afundado pela tormenta; e em 1464, na expedição à serra de
Benacofú.
(1) Chancelaria de D. Afonso V, liv. 3.°, fl. 77 v.;
liv. 3.° da Beira, fl. 136 v.—Da Enxara dos Cavaleiros tomara por êle posse sua
mae em 1 de Dezembro de 1448, em virtude de um alvará de D. Afonso V, —
Lousada, Sumários da Torre do Tombo, II, 449 mihi.
(2) Liv. 3.° de Místicos, fl. 287 v.; Chancelaria de
D. Afonso V, liv. 8.°, fl. 9 v.
(3) Liv. 3.° de Místicos, fl. 4; Pina, Chronica de D.
Afonso V, cap. 169.
(4) Liv. 4.» de Místicos, fl. 26.
(5) Ibidem, fl. 10 v,, transcrita na de 17 de Abril de
1483 de confirmação, por morte do marido, do reguengo e de doação dele a seu
filho para depois do falecimento dela.
Quando, em 1476, se organizou a expedição a Castela,
marchou para lá o Conde de Penela, comandando uma das alas do exército, e,
apesar do cronista o não mencionar, de cerio combateu na batalha de Toro, no
1.° de Março do ano seguinte, regressando a Portugal com o príncipe D. João,
com quem já se encontrava em Miranda do Doiro a 14 de Abril, a passar a Páscoa.
O seu bom serviço nesta campanha é atestado na carta de 10 de Julho de 1476,
pela qual D. Afonso V fez mercê a D. Afonso de Vasconcelos, conde , de Penela,
seu muito amado e presado sobrinho, adiantado das comarcas dai Estremadura,
havendo respeito aos seus muitos e extremados serviços, tanto nestes reinos, como nos de Africa e Castela,
«onde ora grandemente nos serviu, com sua pessoa e gentes e muita despesa de
sua fazenda», de na vila de Penela e
reguengo de Campores lhe poder suceder o filho (1). " No ano seguinte
acompanhou o príncipe às Cortes de Montemor o Novo, principiadas a 21 de
Janeiro e respondidas a 9 de Fevereiro (2). Da sua estada lá consta das trovas
«Do Coudel mor a Anrryque dAlmeida que lhe mandou pedyr novas das Cortes que el
Rey dom Joã fez em Montemoor o Novo sendo pryncype o
ano de setenta e sete sendo ell Rey seu pay em Frãça». Diz Fernão da Silveira:
Lyxboa que sonha no cardealado, moordomo Noronha, também deputado. Hy he
Portymam, Alvito, Penela, Berynguell comela que fez o sermara (3). Não serviu
só em postos militares, também exerceu cargos de justiça, pois que, por carta
de 1 de Maio de 1479, foi nomeado regedor da Casa do Cível de Lisboa (4). Ano e
meio depois, a 1 de Novembro de 1480, falecia, contando só trinta e nove anos
de idade. D. Afonso V lastimou-o e à sua memória dedicou palavras sentidas na
carta de conde de Penela ao
(1) Chancelaria de D. Afonso V, liv. 6°, fl. 45 v.,
com omissão do dia e sem ela na Chancelaria de D. João III, liv. 47. de
Doações, fl. 22,
(2) J. P. Ribeiro, Memorias sobre as Fontes do Código
Philippino, no tom. II das Memorias de Litteratura da Academia, pág. 92.
(3) Cancioneiro geral, fl. 19, Col. 1. — As pessoas
nomeadas são: D. Jorge da Gosta, arcebispo de Lixboa, promovido a cardial no
ano precedente ; D. Pedro de Noronha, moordomo mor; Gonçalo Vaz de
Gastelbranco, senhor de Vila Nova de Portymam; D. João da Silveira, barão de
Alvito; D. Afonso de Vasconcelos, conde de Penela; e Rui de Sousa, senhor de
Berynguell (Beringel).
(4) Liv. de Extras, fl. 166 v.
filho, em sucessão ao pai, «pois a nosso Senhor prouve
de o tam cedo levar pêra si». O cronista contemporâneo, Gomes Eanes de Azurara,
referindo-se aos defensores de Arzila no cerco lá posto pelos Moiros no ano de
1439, escreveu: «Dom Duarte dera certas guardas a alguns Fidalgos na
barreira... das quaes contamos por primeira, a que fói dada ao nobre Senhor Dom
Afonso de Vasconcellos por razão da pessoa, porque assi em grandeza de linhagem,
como em bondade de custumes, nom partio deste Regno pêra aquelle cerco nenhum
melhor que elle» (1). Foi o Conde de Penela sepultado na igreja da Graça de
Santarém, com este epitáfio por mim copiado em 16 de Janeiro de 1885: Aqui fa
ho mui manijico ilustre sr. D. a° de vasconcelos e de meneses conde y señor de
Penela o qual foi bisneto do ifãte dô johã q era filho no del rei dõ pedro de
portugal e asi no menos de vertudes q de tã real liniagê de todos esses tempos
que viveu fe tais e tão asinados serviços aos reys de portugal e ao mesmo reino
que nenhum acrecentamento de maior estado pudera satisfaser a seus grandes
merecimentos viveu 39 annos e finouse o primeiro dia do mes de novembro era de
480 e a muito magnifica senhora dona isabel da silva condessa de penela sua
molher encolheu também pêra si esta mesma sepultura qué não se causa foi huma
so a elles ambos na morte aos quaes foi sempre hua so vontade na vida vivendo
viveu annos. Por cima dois escudos, um, era lisonja, partido: o I cortado das armas
do reino sobre partido de liso e de quatro faxas de veirado; no II um lião. São
as armas da Condessa. O outro escudo, com as armas do Conde, é esquartelado: o
I e IV das armas do reino, com oito castelos na bordadura; o II e III terçado
em pala: o 1.° quatro faxas veiradas, o 2.° e 3.' reunidos, formando um só
quartel, cortado de um traço, partido de dois, que fazem seis quartéis: a, c,
e, dois lobos passantes e sotopostos, b, d, f, quatro palas; sobre o
todo,.escudete liso. Está o túmulo metido na parede da banda da epístola na
capela colateral com a mor do lado do evangelho. A variedade das quatro faxas
de veirado nas armas dos Vasconcelos encontraremos também no túmulo de Rui
Vasques Ribeiro, na igreja de S. João Baptista da sua vila de Figueiró dos Vinhos,
e no arco da capela dos Vasconcelos do Esporão na Sé de Évora. Notarei também
ser singularidade do epitáfio o apelido de Meneses no nome de D. Afonso de
Vasconcelos. A mulher do Conde de Penela, D. Isabel da Silva, era íilha dos
1.°^ Condes de Abrantes, e deu a seu marido, entre outros filhos, a D. João de
Vascon- 1 celos e de Meneses e D. Fernando de Vasconcelos e de Meneses.
(1) Chronica do Conde D. Duarte, cap. 76.
D. João foi o 2.° conde de Penela por carta de 16 de
Abril de 1481 (1), senhor das vilas de Penela, Mafra e Enxara dos Cavaleiros, e
dos concelhos de Soalhães e Aregos, e vedor da fazenda por carta de 3o de
Setembro de 1527 (2), para substituir Nuno da Cunha, que ia ser nomeado
governador da India. Nas terras do Conde de Penela, conforme o censo da
população mandado fazer por cartas régias de 17 de Julho de 1527, viviam 1243
moradores assim repartidos: 42, na vila e termo da Enxara dos Cavaleiros; 191,
na vila e termo de Mafra; 554, vila e
termo de Penela; 97, no concelho de Soalhães (3); e 359, concelho de Aregos (4). Dando à palavra
moradores do censo de 1527 a sua actual designação de fogos, e calculando em
média quatro moradores a cada fogo, temos cinco mil habitantes nas terras do
Conde de Penela. Morreu êle em 1543, antes de Abril (5), deixando descendência
na qual se continuou a sua casa. Ao Conde alude Gil Vicente em 1529 no Clérigo
da Beira: • ^ Qual é o mor namorado de Portugal e Castela ? He o Conde de
Penela, mas anda dissimulado por amor da sua estrela. E em 1532, na Rofiiagem
de Agravados, diz que he muyto dadivoso. O seu brasão era o escudo
esquartelado: o I e IV as armas do reino com dez castelos na bordadura ; o II
de negro, três faxas de veirado de prata e vermelho (Vasconcelos); o III
cortado de um traço e partido de dois que fazem seis quartéis: o i.°, 3.° e 5,°
de oiro, dois lobos passantes e sotopostos de púrpura, armados e linguados de
vermelho; o 2.°, 4.° e 6." de oiro, quatro palas de vermelho; sobre o
todo, de oiro liso (Meneses). Timbre: lobo passante' de púrpura, armado e
linguado de vermelho, sobre uma capela de penas de pavão de sua côr (6).
(1) Chancelaria de D. Afonso V, liv. 26., fl. 73.
(2) Chancelaria de D. João III, liv. 3o.° de Doações.
fl. 160 v.
(3) Povoação da Estremadura e Povoação de Trás os Montes,
no Archivo histórico Portuguez, vol. VI, págs. 255 e 270; vol. VII, pág. 247.
(4) Povoação da Beira. Nota II em apêndice a este
artigo.
(5) Archivo histórico portuguez, X, 116.
(6) Livro do Armeiro mor, fl. 47, sem o timbre; Livro
da Torre do Tombo, fl. 9, com êle.
D. Fernando de Vasconcelos e de Meneses, filho segundo
de D. Afonso de Vasconcelos, 1.º conde de Penela, «foi muito douto nas
antiguidades e matérias politicas pelo que teve grande estimação athe dos
estrangeiros, foi muito verdadeiro, affabel, cortes e liberal, e com tal termo
se havia no que lhe pediao e elle nao podia dar que ficava quem pedia
igualmente obrigado, foi clérigo e o primeiro beneficio que teve foi a Abadia
de Selva no Arcebispado de Braga de que foi colado em 7 de Dezembro de 1510; e
no de 1513 foi Deaô ou Arcediago de Lisboa tendo a Abadia de S. Mamede de
Angeris na terra de Chaves, e depois foi elevado pelo Papa Leaõ 10 a Bispo de
Lamego em 8 de Novembro do anno 1518, e estando em Lisboa quando os fidalgos
beijarão a maõ a el Rey D. Manoel pelo cazamento da Rainha D. Leonor elle foi
hú delles e el Rey D. Manoel o fes seo cappellaõ mor no anno 1516, e no anno
1519 se achou com o dito Rey em Sintra no Conselho que se tomou acerca de
Fernaõ de Magalhães quando se passou ao serviço do Imperador Carlos 5 e no anno
1521 esteve prezente a morte do dito Rey, e no anno 1525 em Torres novas
recebeo por procuração a Infante D. Izabel irmã dei Rey D. loaõ 3 com o
Imperador Carlos 5., e no de 1533 bautizou ao Princepe D. Manoel filho dei Rey
D. Joao 3. e no de 1543 acompanhou athe a raya de Castella sendo ja Arcebispo
de Lisboa a Infante D. Maria a cazar con o Princepe D. Fellippe filho do dito
Imperador fazendo muitos gastos athe Salamanca onde se fizeraô os despozorios,
no anno 1540(1) foi elevado pelo Papa Paulo 3.* a Arcebispo de Lisboa de que
tomou posse em 6 de Outubro e foi o ultimo Prior que teve S. Vicente de Lisboa
morreo muito velho e com sináes de muita virtude em 7 de Janeiro de 1564,
deixou para as obras da Se 4… cruzados de renda e nella esta sepultado juncto
da sepultura do Arcebispo D. Martinho da Costa e tem este letreiro: Nesta
sepultura foi enterrado e Corpo de D. Fernando filho de D. Affonso 1.° Conde de
Penella foi Arcebispo desta Cidade e Capellao mor del Rey D. Manoel del Rey D.
loaÕ 3.° e del Rey D. Sebastião nosso snôr falleceo de 83 annos e meyo a 8 de
Janeiro de 1564(2). Fez a Igreja de S. António do Tojal deixando a metade da
Torre dos sinos feita porque tirava a vista da Tribuna dos Paços, foi do Conselho
dos quatro dei Rey D. Manoel e seo valido, succedeo no Arcebispado ao Cardeal
Infante D. Affonso filho do dito Rey» (3).
(1) Bula de 24 de Setembro. — Corpo diplomático
portuguez, IV, 346.
(2) Na Lisboa antiga, p. II, vol. III, pág. 864,
transcreveu Júlio de Castilho outro epitáfio muito diverso encontrado nas
Antiguidades de Lisboa de Coelho Gasco, lastimando-se destas confusões.
(3) Tirei esta bem abreviada notícia biográfica do
título dos Vasconcelos, n.º 240, de D. Afonso Manuel de Meneses, no Nobiliário
coordenado por Jorge Salter de Mendonça, vol. XXIV, fl. 173 mihi. V
Foi este Arcebispo de Lisboa quem, em 1551, com
intuito de averiguar as rendas do arcebispado, ordenou a seu guarda roupa
Cristóvão Rodrigues de Oliveira que elaborasse uma espécie de cadastro da
cidade. Esta obra foi posteriormente impressa em Lisboa, em casa de Germão
Galharde, em ano não indicado e com o título de Summario ê que brevemente se
contem alguãs covsas (assi ecclesiasíicas como secvlares) que ha na cidade de
Lisboa. E livro extremamente raro. Usou D. Fernando de Vasconcelos e de Meneses
de umas armas muito semelhantes às dos Eças, também descendentes, como estes
Vasconcelos, do infante D. João. Vêem-se elas no selo do Arcebispo e consistiam
em um escudo carregado dos cinco escudetes das quinas, dispostos em aspa, com
cinco besantes em cada um, e um cordão, com seus nós, posto em orla e em aspa,
passando nesta parte por baixo dos escudetes (1). Teve o Arcebispo vários
filhos ilegítimos e entre eles a D. João Afonso de Meneses, arcebispo de Braga
em 1581, em sucessão a D. Fr. Bartolomeu dos Mártires. Sagrou-se em Lisboa na
capela rial, assistindo Felipe 1 e o cardial arquiduque Alberto, e fez a sua
entrada em Braga a 25 de Abril de 1582. Tinha ja cinco anos pouco mães, ou
menos de Prelado gastados na visita, e reformação delia, quando recebendo hua
carta del Rey D. Felippe o prudente, em que o reprehendia de alguas cousas que
passavão no Arcebispado; como fosse pessoa de grade opinião, assi o sentio, que
de puro desgosto veyo a adoecer, e morreo em 14 de lulho de 1587 sendo de idade
de 65 annos (2). Tudo derivou da denúncia enviada a Felipe I contra o Dr. André
Velho Tinoco, arcediago de Neiva na Sé de Braga e secretário do Arcebispo,
tendo sido denunciante um irmão do próprio prelado. O Dr. André Velho Tinoco
foi preso na Inquisição de Lisboa pelo pecado nefando, a 23 de Julho de 1586, e
foi-lhe lida a sentença, na sala, no dia 10, de Setembro do ano seguinte (3).
(i) P.e Sousa, Historia
genealógica, tom. IV, Est. K, n.° 35.
(2) D, Rodrigo da Cunha, Historia
ecclesiastica de Braga, II, 397.
(3) Torre do Tombo, Inquisição de Lisboa, processo
n." 1053.
Comienzo donde se inicia el apellido Vasconcelos, dejando de lado la parte primera de la obra.
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